segunda-feira, 5 de março de 2012

Parkinson II

     Novas pesquisas  apontam um tratamento com células-tronco adultas. Como essas estruturas precursoras são originárias da própria medula dos pacientes, seu sistema imunológico não as rejeita e elas não envolvem questões éticas, como no caso das células-tronco embrionárias.
Imaginem!! Um spray nasal!!
    Segue, abaixo, uma pequena amostra da reportagem sobre o assunto. Mais informações, na revista Mente e Cérebro, de fevereiro de 2012.


Passagem secreta para o cérebro
Tratamentos com células-tronco prometem curar várias doenças neurológicas
 
©Light Spring/shutterstock
A barreira hematoencefálica é um dos mais importantes mecanismos de defesa do corpo humano. Ela impede que substâncias nocivas, bactérias ou vírus presentes no sangue penetrem no cérebro. No entanto, muitas vezes ela é um empecilho para tratamentos médicos, já que vários medicamentos administrados no sangue na forma de comprimidos ou injeções não conseguem atravessar esse escudo protetor. A consequência: substâncias que poderiam ajudar no caso de doenças neurológicas como Parkinson, Alzheimer ou derrame não atingem seu alvo. Por isso, cientistas já procuram há tempos caminhos pelos quais consigam levar as substâncias terapêuticas diretamente para o cérebro. Um método já estabelecido, mas muito invasivo, consiste em fazer um orifício no topo do crânio para assim administrar os medicamentos por ele de forma dirigida.

O farmacêutico William Frey II, diretor do Centro de Pesquisas em Alzheimer em St. Paul, Minnesota, porém, já pesquisa há cerca de duas décadas outro caminho: pelo nariz. Frey já mostrou que algumas substâncias da cavidade nasal penetram no cérebro pelo nervo olfativo. Esse caminho “secreto” ofereceria várias vantagens para o tratamento de doenças neurológicas: spray nasal em casos de Parkinson seria não apenas mais cuidadoso e barato, mas certamente bem menos arriscado do que cirurgia. Além disso, esse recurso pode ser utilizado, se necessário, várias vezes sem grandes desgastes físicos e emocionais.

Junto com William Frey, nós estudamos no ano passado no Hospital Universitário de Tübingen, se não apenas substâncias químicas e partículas mas também células do próprio corpo conseguem atingir o cérebro dessa maneira. Pois para muitas doenças neurodegenerativas – entre elas, Alzheimer e Parkinson – um tratamento com células-tronco adultas MSCs ou mesenquimais (do inglês mesenchymal stem cells) pode ser bastante promissor. Elas são capazes de se transformar em diferentes células e conseguem assim interromper pelo menos parcialmente a redução de neurônios. Como essas estruturas precursoras são originárias da própria medula dos pacientes, seu sistema imunológico não as rejeita e elas não envolvem questões éticas, como no caso das células-tronco embrionárias.

Em 2008 demonstramos que, pelo menos em roedores, as MSCs adultas realmente chegam ao cérebro através do nariz. Para tanto, tingimos as células que o laboratório de células-tronco do banco de sangue de Tübingen havia isolado a partir da medula de ratazanas. Na sequência, pingamos nas narinas de camundongos uma solução com essas células. Com a ajuda de um microscópio sofisticado, acompanhamos a migração das células-tronco marcadas. Depois de uma hora, várias centenas delas já haviam chegado ao córtex cerebral!

Com base nas imagens, pudemos reconstruir o caminho das células: primeiro elas se reuniram na mucosa olfatória, na região mais alta da cavidade nasal. Ali, a camada mais alta do osso etmoide, que separa a cavidade nasal da craniana, a lâmina cribriforme, impede o acesso ao cérebro. No entanto, na lâmina há vários pequeninos buracos através dos quais os botões terminais do nervo olfatório entram na cavidade nasal. As células atravessam o osso etmoide ao longo desses cordões chegando ao bulbo olfatório, estrutura cerebral profunda que fica imediatamente acima da cavidade nasal.

Depois que atingem o sistema nervoso central, vem a segunda parte da migração: algumas células atravessam o cérebro até regiões distantes como o hipocampo e o estriado. Descobrimos também uma parte das MSCs fora do cérebro, no espaço subaracnóideo (onde fica o liquor cerebral). De lá, elas aparentemente penetraram no córtex cerebral em diversos pontos e migraram para regiões mais profundas. Dentre as cerca de 300 mil células-tronco contidas nas nossas gotas nasais, centenas – e às vezes até alguns milhares – delas chegaram ao cérebro em uma hora. Várias, porém, ainda ficaram na cavidade nasal. Supomos que também essas células chegaram ao sistema nervoso central mais tarde.

Como é possível que as células-tronco percorram em apenas uma hora a distância gigantesca para elas da ponta do nariz até as profundezas do cérebro? Essa questão ainda não foi esclarecida. Sabe-se, porém, que no mínimo grandes partículas de proteínas que se encontram no espaço subaracnóideo alcançam a área cerebral interna em minutos por meio da chamada bomba perivascular. É nessa região que as partículas – e provavelmente também as células tronco – que se encontram entre os vasos sanguíneos e a meninge são carregadas pela pressão da pulsação conseguindo, dessa forma, atravessar rapidamente grandes distâncias.

Estávamos também interessados em saber se a recepção das células-tronco através da mucosa nasal poderia ser melhorada pela administração de outras substâncias. Para tanto, testamos a hialuronidase, enzima que “afrouxa” a camada de células mais alta da mucosa nasal, elevando a permeabilidade do tecido. Sabe-se, por experimentos anteriores, que um tratamento assim, por exemplo, facilita a invasão do sistema nervoso central por bactérias. Realmente, uma hora depois da administração intranasal das células-tronco, encontramos maior número de MSCs no cérebro dos camundongos cuja mucosa havíamos tratado previamente com hialuronidase do que no cérebro dos animais que não receberam a enzima.

Além dos caminhos de migração através dos bulbos olfatórios e do espaço subaracnóideo, outra trilha seria possível: as células poderiam chegar também ao tronco encefálico e, por meio dele, até o cerebelo, pelo nervo trigêmeo, o qual provê amplas partes do rosto com feixes de nervos. William Frey conseguiu demonstrar em experimentos que algumas substâncias, como o hormônio interferon beta, podem se deslocar até o sistema nervoso central por esse caminho.

Por isso, parece muito promissor continuarmos seguindo esse rastro. Uma das maiores vantagens do método de administração de células-tronco pelo nariz estaria na possibilidade de repetirmos o tratamento com a frequência que quisermos. Por outro lado, não seria razoável sugerir ao paciente a realização de vários transplantes cirúrgicos de células no cérebro, já que essa intervenção, muito invasiva, está associada a vários efeitos colaterais, como cicatrizes e
inflamações.

É preciso considerar possíveis desvantagens do novo procedimento. Uma delas é o fato de as células não chegarem diretamente à região cerebral prejudicada, mas primeiro terem de passar por todo o cérebro – correndo o risco de não atingir seu objetivo. Estudos anteriores, porém, levam a supor que as células-tronco têm a capacidade de migrar objetivamente para regiões cerebrais inflamadas. Por isso, pode-se imaginar que, após a administração intranasal, as células “reconhecem” qual tecido está doente e se deslocam diretamente para lá.

Pesquisas recentes confirmam essa suposição. Em uma delas, de forma proposital, alteramos quimicamente uma região cerebral específica em ratos e, em seguida, administramos célulastronco pelo focinho dos animais. A maior parte das células migrou para o hemisfério cerebral afetado, onde sobreviveram por no mínimo seis meses. Isso reforça a hipótese sobre o potencial das células de procurar, por conta própria, o caminho até as regiões necessitadas.

Sem dúvida, nossa iniciativa ainda é muito nova, e antes de ser utilizada com seres humanos ainda há uma série de outros experimentos a ser feitos. Eles devem mostrar com mais detalhes que efeito terapêutico a administração intranasal repetida de células-tronco tem para diversas doenças. Além disso, são necessárias observações de longo prazo para determinar se o novo procedimento realmente não apresenta contraindicações. Tanto o potencial terapêutico quanto os possíveis efeitos colaterais desse tipo de tratamento, no entanto, dependem principalmente do tipo de células escolhidas, não da forma de administração – nesse caso pelo nariz.

sábado, 8 de outubro de 2011

Doença de Parkinson

     Para os portadores desta doença é inaceitável, perturbador, inacreditável e, triste, aceitarem tal diagnóstico. Creio que 99% dos casos, senão todos, pensam assim em alguma fase. 

    Minha mãe é portadora, então, sei do que estou falando. 

    No ano de 1817, um médico inglês chamado James Parkinson, membro do Colégio Real de Cirurgiões, e homem bastante culto para a sua época, publicou sua principal obra: Um ensaio sobre a paralisia agitante, no qual descreveu os principais sintomas de uma doença que futuramente viria a ser chamada pelo seu nome.
   Charcot igualmente, desempenhou um papel decisivo na descrição da doença, descrevendo a rigidez, a micrografia e a disartria, e discordando de Parkinson quanto a presença de paralisia. Foi também o responsável pela introdução da primeira droga eficaz.
     Com relação aos fatos históricos relacionados com seu tratamento, sabe-se que das várias tentativas do passado, drogas anticolinérgicas derivadas da beladona, introduzidas por Charcot no final do século passado, foram as primeiras que tiveram alguma eficácia reconhecida. Contudo, apenas no final dos anos 50, observou-se um progresso real, através de um estudo feito na Suécia onde ofereceu-se levodopa para ratos intoxicados por reserpina que desenvolveram parkinsonismo. Observou-se uma melhora expressiva da motricidade desses ratos. A descoberta da levedopa foi o prenúncio da revolução observada na década seguinte. No princípio dela, Ehringer e Hornykiewicz afirmaram que o parkinsoniano devia-se à não-produção de dopamina pela substância negra mesencefálica. Na segunda metade desta década, Cotzias e Birkmayer, de modo independente, sugeriram o tratamento da doença de Parkinson com a forma levógira da dopamina (levodopa). A introdução desta droga provocou um impacto marcante, com radicais mudanças na vida dos seus sofredores e influenciando inclusive o prognóstico até então sombrio. Seres humanos petrificados e tremulantes nos seus leitos, sob ação desta droga voltaram a usufruir de uma existência digna, fato que foi muito bem exemplificado no filme "Tempo de Despertar", estrelado pelo Robert de Niro.

      Acredito que, a pior sensação para os portadores desta doença, é perceber que seu corpo não obedece mais aos seus comandos. . . 

     No próximo post continuaremos falando sobre as causas e os sintomas e, uma reportagem da REVISTA SELEÇÕES, setembro/2011 sobre um novo tipo de ciência para descobrir  mais depressa os segredos dessa doença.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Romantico- mais visto no Mundo - Amor de verdade - legendado

sábado, 31 de julho de 2010

Autismo

Anjos de Barro
     Filhos imprevisíveis, distantes ...

     A maioria deles nasce normal, alguns até espreguiçam e choram na maternidade como todos os bebês sadios, mas já nos primeiros meses de vida, às vezes até os cinco anos, começam a surgir os sintomas de um fenômeno doloroso que os especialistas discutem e não conseguem explicar.

    São estranhos comportamentos de crianças que perdem a fala, são incapazes de olhar as pessoas e isolam-se cada vez mais num mundo misterioso e impenetrável - o mundo do autismo. Do grego autos, que significa ele mesmo, de si mesmo. Uma síndrome ou doença até hoje incurável.

    Suas causas confundem os profissionais, suas consequências atormentam os pais, que em seu desespero iniciam uma interminável peregrinação aos consultórios e unem-se em associações numa incansável luta pela recuperação de filhos queridos mas imprevisíveis e distantes. De origem psicológica ou orgânica - as teorias são muitas, as receitas multiplicam-se - o resultado é o mesmo: sofrimento e dor, angústia e esperança.

José Maria Mayrink

Do livro: Anjos de Barro



    Tia de um autista ( ao lado o Luciano), sei o que significam estas palavras ...
   Acredito que, mais do que a angústia, dor, sofrimento, tratamentos experimentais, é a dor da desinformação, a dor do olhar das pessoas na rua, quando veem você tentando fazer seu filho levantar do chão, pois ficou chateado com algo ou, no elevador ao dizer "oi" e, a pessoa ao lado achar que ele está "tirando com sua cara" ... essa  sim, é a maior dor do mundo, ser INCOMPREENDIDO...
   A sociedade é formada por pessoas (com raras excessões) altruístas, ignorantes, preconceituosas e,  vivem no seu mundinho ... quem é o autista ?

quinta-feira, 24 de junho de 2010

O Contador de Histórias

     

      Para quem gosta de um bom filme nacional, aqui vai a dica: O Contador de Histórias, direção de Luiz Villaça. Filme baseado em fatos reais, em Belo Horizonte, na década de 70.
      Menino, de família humilde, é levado pela mãe até a FEBEM. A mãe, lavadeira, analfabeta, e com mais 9 filhos para criar, assiste propaganda na televisão onde a instituição, FEBEM, cuidava de crianças, prometendo aos pais, que elas somente sairiam de lá, "doutores" ... Não vou contar o resto mas, lhes garanto, o filme é muito bom.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Café ...

   Adoro café!! Quase todas as tardes, frequento o café da Sarah, pois lá tem gente simpática, várias idades ... como nos tornamos fiéis a esses lugares ... tudo de bom!
   Mas, não é esse o ponto... o que fazemos quando sentamos, em uma mesa, seja em um restaurante chique, num botego, num barzinho,  para tomar um café?
   Ultimamente, tenho lido o jornal...rs... não me resta muito tempo para isso, então, aproveito esse momento. Mas, a algum tempo atrás, ficava observando as pessoas, quantos de nós para para fazer isso e imaginar... pôxa, será que aquela moça, com olhar distante está triste ou, só pensando no namorado, nas dívidas, no trabalho ou, na falta dele... e aquele grupo de senhores que se reúnem todos os dias para tomar aquele cafezinho e conversarem, sabe Deus sobre o quê, tempo, política, economia, as esposas ...rs...  E aquelas senhoras que se juntam para jogar cartas? Que maravilha!
   Ah!! E os jovens? Não podemos esquecer deles, aqueles aborrecentes! Muitos ficam conversando, rindo, matando o tempo... tentando, quem sabe, esquecer o que lhes espera em casa.
    Ah!! Esses cafezinhos ... esses momentos...

terça-feira, 1 de junho de 2010

A atual febre vampiresca

                         

  
     Cada época tem o Drácula que merece. As histórias de vampiro se incluem naquela categoria de mitos duradouros que, recontados de forma diferente em cada era, dizem muito sobre o espírito de seu tempo. Seguindo essa linha de pensamento, como interpretar o sucesso da saga literária Crepúsculo, da autora americana Stephanie Meyer - cujo subproduto mais recente, o filme Lua Nova, está em cartaz nos cinemas brasileiros? O que vampiros vegetarianos, que usam seus caninos afiados para perfurar alface e rúcula, têm a dizer sobre os tempos atuais? Para responder a essas perguntas, é necessário ir às origens do mito. Os primeiros relatos sobre as criaturas que um dia seriam conhecidas pelo nome de “vampiros” surgiram por volta do século 12. Durante mais de 200 anos, a superstição sobre o homem morto que volta à vida após o pôr do sol se disseminou pela Europa. A lenda começou a virar objeto de interesse cultural apenas no começo do século 19, quando o ítalo-britânico John Polidori escreveu o conto The Vampyre para a publicação inglesa New Monthly em 1819. O nobre errante que atraía mulheres inocentes para se alimentar de seu sangue foi inspirado em um companheiro de viagens chamado George Gordon Byron. Sim, ele mesmo, Lord Byron, o poeta que escreveu a mais arrebatadora versão do Don Juan (outro mito que atravessa eras) - e que se tornou popstar em sua época tanto pelos versos quanto pela vida aventurosa. De onde se depreende que a figura literária do vampiro é, na origem, romântica.
     
        Em sua primeira encarnação literária importante, no entanto, o vampiro nada tinha de sedutor. Cada época, já se disse, tem o vampiro que merece, e o da era vitoriana é o Drácula, protagonista do romance de Bram Stoker escrito em 1897. Para confrontar a moral puritana daquele tempo, o autor criou um personagem que tinha mau hálito, pelos nas palmas das mãos e bigodinho branco. Todas essas características foram atenuadas na primeira versão cinematográfica do livro. O Drácula interpretado por Bela Lugosi no cinema, em 1931, tinha aspecto elegante, sotaque estrangeiro charmoso e modos formais. Apesar de ter formado a figura icônica do vampiro-mor, Bela Lugosi o interpretou desprovido de sexualidade. Essa pegada casta tem a ver com o fato de esse vampiro representar outra época, a da Grande Depressão. O filme não podia correr riscos financeiros em um mundo abalado pela crise de 1929.
    O príncipe romeno Vlad Tepes (1431-1476), o empalador, serviu de inspiração para o clássico livro de Stoker, originalmente publicado em 1897, que definiu os alicerces do mito do Conde Drácula.


     O Drácula como conhecemos, de caninos afiados e mordidas no pescoço de belas mulheres, só ganhou esse aspecto no final da década de 50, quando foi encarnado no cinema por Christopher Lee. A força sexual do conde vampiro era evidente. Numa época em que o sexo era controlado por pensamentos autoritários, Lee mostrou suas presas antes de se debruçar no corpo entregue de sua amada, Mina Murray. Era a figura do libertino que a estudiosa Carol Fry, autora do artigo Fictional Conventions and Sexuality in Dracula (“Convenções Ficcionais e Sexualidade em Drácula”), publicado em 1972, dizia ser representada pelo homem que deixava marcas na mulher e a infectava a ponto de a vítima se tornar uma pária social. Mas o significado mais óbvio era o retrato do sexo enrustido da década de 50, um sexo reprimido sob a luz do dia, mas solto e tórrido no escuro do quarto.



     Passado o período da revolução sexual, nos anos 60, esses seres românticos e calientes puderam finalmente se expressar livremente - e a figura do vampiro chegou a seu auge artístico em duas grandes obras-primas do cinema. A primeira é Nosferatu, O Fantasma da Noite, de Werner Herzog, de 1979. Poucas imagens são mais eróticas do que o corpo arfante de Isabelle Adjani no momento em que o vampiro de Klaus Kinski aproxima as presas da carne branquíssima de seu pescoço, num fotograma que lembra um quadro expressionista. “Não poder envelhecer é terrível. A morte não é o pior. Imagine durar séculos, vivendo a cada dia a mesma futilidade”, diz o personagem em sua fala mais famosa.



     O outro é o Drácula de Francis Ford Coppola, de 1992. Com o fim da era Reagan, o cineasta decidiu equilibrar a sedução do elegante conde vampírico, agora na pele charmosa de Gary Oldman, com sequências sexuais picantes. Provocou o Jonathan Harker de Keanu Reeves com três voluptuosas vampiras — uma delas, a atriz Monica Bellucci, no começo da carreira -, criou uma cena de bestialismo entre o Drácula semitransformado e a garota Lucy Westenra (Sadie Frost) e até chegou ao ponto de imaginar Mina (Winona Ryder) seduzindo Van Helsing (Anthony Hopkins). Apesar do apelo sexual, Drácula era um vampiro com o sentimento humano em busca do amor eterno. Era o reflexo da juventude que abraçou o Nirvana, principal banda do movimento roqueiro grunge - um ritmo cru em sua forma, mas extremamente romântico em sua natureza e letras.



De certa forma, a autora Stephanie Meyer captou o espírito dos adolescentes do nosso tempo quando lançou o primeiro capítulo da tetralogia literária Crepúsculo. O romantismo do Drácula de Gary Oldman agora ganhava uma versão assexuada na adaptação do fenômeno para as telas em 2008. Edward (Robert Pattinson), o grande amor proibido da humana Bella (Kristen Stewart), não morde pescocinhos e tem o corpo brilhante como diamante ao se expor ao sol. Vampiros ecológicos, politicamente corretos e vegetarianos. Você consegue imaginar algo melhor para representar a adolescência emo, que procura respostas para a depressão pós-moderna em príncipes encantados que mudarão suas vidas chatas? OK, cada época tem o vampiro que merece, e os livros e filmes da série Crepúsculo até têm um ou outro momento divertido. Parafraseando Nosferatu, no entanto, pior do que morrer no auge é enfrentar uma longa e lenta decadência. Como essa dos vampiros que, privados de seu alimento vital - romantismo, sexo e sangue - parecem condenados a viver um eterno e tedioso crepúsculo.

     Pois bem, em meio a esta saga sanguinária, entendo porque os bancos de sangue andam vazios ...